domingo, 11 de novembro de 2012

Anthony Browne

Na maioria das vezes, quando as pessoas visitam um museu ou galeria de arte, perdem mais tempo a ler a explicação de um quadro do que a observá-lo. 
As palavras são do laureado Anthony Browne, autor e ilustrador de uma vasta obra na área da literatura infantil.


Coleccionador de um invejável número de prémios,  entre os quais o Prémio Hans Christian Andersen, em 2000, Browne atribui o sucesso do seu trabalho ao facto de as crianças serem observadores bem mais inteligentes, imaginativos e sensíveis do que os adultos podem supor.


Mais do que observadores dos seus livros, Os Hipopómatos são incorrigíveis  consumistas do seu trabalho. Um trabalho em que predomina a componente plástica, onde os elementos pictóricos e as referências culturais se combinam proporcionando enriquecedoras formas de leitura.  Através de Browne, a dupla leitura de palavras e de imagens ganha uma nova dimensão.


Os primatas são a imagem de marca do universo browneano. O autor exalta o contraste entre a "força bruta" que lhe intuimos e a gentileza que efectivamente os caracteriza. Destaca a similitude dos traços e rugas com o envelhecimento do rosto humano e o carácter universal que "assegura que todas as crianças se possam identificar com eles, e não só as pessoas de certa idade, época ou raça."



Personagens humanizadas na maior parte dos seus livros,  nutre por eles um fascínio confesso, a que não é alheia a memória do pai, homem de aparência forte e confiante mas ao mesmo tempo, tímido e sensível.

Num mundo muito seu, genialmente retratado, o pendor e a influência dos pintores surrealistas, dos quais se destaca o belga René Magritte,  são uma evidência na obra de Anthony Browne.

Outra evidência, que muito nos alegra,  é a recente edição pela Kalandraka  de mais dois livros de Anthony Browne.


Dois fantásticos álbuns, onde os mais pequenos podem deliciar e ginasticar os sentidos. Como Te Sentes, numa magnífica simbiose entre palavras simples e imagens, é uma espécie de viagem pelas emoções infantis. Feita por esta simpática personagem, cujas expressão e atitude vão mudando consoante os sentimentos que vai exprimindo.


Em Um Gorila, um livro para aprender a contar, Browne atinge um realismo que roça a perfeição. A inevitável empatia que se cria entre estas criaturas e o leitor perdura muito para além do acto de fechar o livro. Fazendo o que tanto gosta, o autor evidencia similitudes, revela-nos expressões e afectos, relembra espécies ameaçadas.



 E não hesita em "dar a cara" por uma causa que sempre foi a sua,


e que, às vezes, esquecemos que é de todos.


Anthony Browne é um dos ilustradores que integram a exposição da Gulbenkian, Um chá para Alice. Voltaremos a ele. Até lá também podem  bisbilhotecar.


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