quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Le Chaperon

Foi na Feira do Livro de Frankfurt, no expositor das Editions Grandir, que o encontrámos. 


Contivemos a respiração, os olhos e as mãos passearam-se demoradamente por ele... Voltámos uma, duas, várias vezes!


O preço colocava-o fora do nosso "plano de aquisições", mas não nos saía da cabeça! A paixão falou mais alto. Arruinámo-nos e trouxemos esta delicada versão do Capuchinho Vermelho! 

O autor é Jimi Lee, de origem coreana e estudante de Belas Artes, em França. Découpé à mão e com recurso ao x-acto, assemelha-se a um tesouro que nos faz ter vontade de colocar bem no fundo do baú e-books e companhia. As Editions Grandir procederam a uma tiragem de 1000 exemplares.


Nunca mais largámos o nosso! Já contámos várias vezes a história e, dependendo dos dias, o nosso Capuchinho tanto pode acordar vermelho, como amarelo, verde ou o que mais lhe aprouver.


São muitas as versões deste conto, já o dissemos aqui. Torna-se cada vez mais difícil enumerar aquelas de que gostamos! Mas esta, foi amor à primeira vista.

Sem envelhecer, Capuchinho continua a sair de casa todos os dias.

E a encontrar-se com o Lobo, no sítio do costume, à hora combinada. Mais coisa, menos coisa...



terça-feira, 22 de outubro de 2013

Assim, Mas Sem Ser Assim.

Considerações de um misantropo.


Parecem fazer parte de nós. Insistem em ser companhia de todos os dias. Afinal, é disso mesmo que parecem falar, dos nossos dias. E de pessoas. Daquelas com quem nos cruzamos todos os dias ou dia nenhum. Em comum,  uma identidade. Foram escritos e ilustrados por Afonso Cruz.


À semelhança do que acontece em Contradição Humana, Assim, Mas Sem Ser Assim, considerações de um misantropo, é um livro construído a partir da observação do quotidiano e de quem o povoa. Mais uma vez, é o olhar inocente e questionador de uma criança que põe a nu idiossincrasias e contradições, que tantas vezes escapam aos adultos, tornando-os seres acríticos e socialmente pouco conscientes. 


Seguindo o conselho do pai, que costuma dar bons conselhos e usa barba, o nosso jovem narrador decide contrariar a propensão para passar muito tempo em casa e comunicar pouco. Uma mão cheia de ironia e o humor crítico a que o autor já nos habituou, condimentam a viagem que faz por quem  está mais à mão para comunicar, os vizinhos.



Andar a andar (o prédio tem 8) somos apresentados a cada um dos vizinhos, ficando a conhecer-lhes os traços peculiares... 
No 3C mora uma pessoa muito magra, que lhe comunicou ser "tão extremamente elegante" por ser modelo. 
No 6C mora uma pessoa um pouco gorda ou a atirar para o forte que quase não come, pois quer emagrecer. Comunicou-lhe que por vezes tem momentos de fraqueza. 
No 7A mora um poeta, que passa a vida sozinho e não abre a porta a ninguém.  O que leva o rapaz a desconfiar de puder tratar-se de um misantorto ou até de um misantodo
No 3A, mora um bailarino que anda sempre descalço e que tem como cobertor preferido as estrelas.


Depois, ao virar da página, ali está esse final! Inesperado? Surpreendente? Desconcertante? Sim, tudo isso! Quando lemos o livro com Hipopómatos mais pequenos, o comentário surgiu: " Gostava tanto de poder telefonar ao Afonso Cruz para lhe perguntar como  é que ele se lembrou deste final!"

  
A intertextualidade e o uso de  metáforas são indissociáveis da sua escrita. "O meu pai, que tem barbas, disse-me: As palavras mais fortes são poemas. A palavra não, quando cresce, torna-se talvez, e as palavras que levantam mais peso são as mais delicadas(...). Sim, mas as palavras também crescem, como as árvores, e vão mudando de significado ao longo da vida, começam por querer dizer uma coisa e acabam por dizer outra. Ninguém quer manter-se igual para sempre e até as lagartas começam a voar, um dia."

Talvez sejam elas que nos fazem acabar um livro de Afonso Cruz e ficar avidamente à espera do próximo! Que, simplesmente, nos fazem gostar de sétimos andares! E que já nos fazem andar aqui  às voltas para saber Para Onde Vão Os Guardas-Chuvas!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

6º Encontro Internacional de Ilustração S. João da Madeira


Até Domingo, todas as linhas vão dar a S. João da Madeira, onde decorre o 6º Encontro Internacional de Ilustração.  Este ano, o trabalho dos ilustradores tem como fonte de inspiração a OLIVA, a velhinha máquina de costura que, durante anos, foi presença assídua em muitos lares portugueses. Uma espécie de homenagem ao relevante papel que assumiu no crescimento económico da região. A nossa ilustradora, Catarina Correia Marques, já lá está, munida de máquinas e bagagens.
Não percam! Sigam as linhas e vão até lá. 
Podem consultar o programa aqui

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Feira do Livro de Frankfurt

Sabíamos que é a maior feira do livro em todo o mundo. Que se realiza num recinto com uma área onde cabem 14 campos de futebol. Que, anualmente, ali estão representados mais de 100 países, distribuídos por mais de 7000 expositores... A expectativa era grande! Nas malas, levávamos espaço para o que conseguíssemos trazer  e a certeza de que o fim-de -semana seria curto para ver e ouvir tudo o que queríamos!

Ainda mal dominávamos a engrenagem, já os expositores se desmontavam e as caixas e caixotes  se estendiam por todo o recinto, anunciando o fechar de portas. Era Domingo, a Feira do Livro de Frankfurt 2013 ia terminar,  no preciso momento em que sentíamos  estar aptos a começar...

O ritmo foi tal que a visita ao convidado de honra, o Brasil, ficou para o fim! Com uma participação envolta em polémicas, o fantástico trabalho da equipa que pensou e executou este pavilhão parece ter sido das poucas coisas a reunir consenso. Ali  respirava-se a história da literatura brasileira. 
  
Todo feito em papel, o pavilhão acolhia-nos  com frases, personagens ou pedaços de escrita  à solta pelas paredes ! 

 Uma magnífica homenagem aos livros! E ao tanto que eles podem fazer por nós!  

Esta é uma feira em dois actos. Os três primeiros dias são exclusivos para profissionais, congregando representantes do panorama editorial de todos os cantos do mundo. Encontros, reuniões, gente que se desdobra em contactos (e contratos) múltiplos, espaço para debate, conferências, entrevistas... A coexistência do digital e do livro em papel esteve  em relevo em Frankfurt.

Nos últimos dois dias de feira, as portas abrem-se ao público e  os compridos corredores ficam cobertos por uma massa humana. Os mais acelerados disputam o caminho com os tapetes e as escadas rolantes. Tudo para ver as estrelas da feira, Os Livros! 

É deles, dos livros, que parecem saídas as centenas e centenas de personagens que, de repente, nos surgem de todos os lados. Duendes, Piratas, Alices, Capuchinhos, Poohs & Company  transfiguram o recinto num espectáculo multicolor.

A feira estende-se para o exterior, onde continua a haver um infinito número de actividades, sobretudo para os mais jovens. As iniciativas culturais parecem não acabar para os cerca de 300 mil visitantes que por ali passam.
As últimas horas são, do ponto de vista do visitante, verdadeiramente alucinantes. A maior parte dos livros é posta à venda, a preços loucos. Nem sempre o preço é igual para todos e muito depende da empatia que se cria entre quem compra e quem vende. No nosso caso, tivemos um pouco de tudo. Chegámos a duvidar do preço que ouvíamos( 2 €?), vimos o parceiro do lado comprar por metade do valor que nos tinham pedido, ficámos com uma pilha de livros oferecidos nos braços... Sem dúvida, (já nos beliscámos várias vezes) estivemos em Frankfurt e esta é uma feira de peso!



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Entrelendo

Será que ninguém teve férias?  Tanto livro novo! E quando a diversidade é acompanhada de qualidade... até os Hipopómatos precisam de tempo!


Assim, Mas Sem Ser Assim, o Afonso Cruz já chegou. Ainda estávamos à volta da História da Égua Branca, do Eugénio de Andrade. Muito por culpa da Cristina Valadas que, como sempre, ilustrou de forma a não nos apetecer fechar o livro... Não tarda, o Álvaro Magalhães e O Senhor Pina batem à porta (não vemos a hora!) e...


Bom, está quase. Os livros e o café. Já, já... contamos tudo!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um Passeio Pelo Parque


Chegou Um Passeio Pelo Parque, de Anthony Browne. Do autor e da sua vasta obra já falámos aqui


Este foi o segundo livro de Browne, editado em 1977.  As diferenças sociais, o preconceito e a indiferença que tantas vezes caracterizam o mundo dos adultos são aqui evidenciadas pela espontaneidade, facilidade de comunicação e liberdade de comportamento das crianças e dos animais.


O encontro, no parque, de duas famílias põe em confronto os diferentes comportamentos. Enquanto as crianças e os cães partilham e desfrutam alegres momentos, os adultos permanecem de "costas viradas", sem trocar palavra. 


Quando chega ao Parque, o leitor já conhece as duas famílias, uma vez que lhe é permitido acompanhar o percurso que fazem desde que saem de suas casas. À boa maneira  "browneana", é através da multiplicidade de elementos e referências que povoam as ilustrações, que adquirimos um conhecimento mais detalhado das personagens e adivinhamos a sua origem social.



O leitor torna-se sujeito activo, na medida em que é sistematicamente impelido a interpretar toda uma parafernália de elementos com que se vai deparando. Pintores e quadros célebres são quase obrigatórios nos livros de Browne e este não é excepção. Logo na primeira página, encontramos uma peça replicadora  do célebre quadro de Barraud, His Master's Voice. Os elementos intertextuais são constantes. Num parque que, por vezes, se pode assemelhar a uma floresta sombria, não faltam surpresas!  Numa clara alusão a ricos e pobres, Robin dos Bosques passeia-se por lá e a simbologia do homem livre é-nos relembrada pela figura de Tarzan, na sua liana. 


Terminaríamos por aqui, não fosse estarmos a falar de um dos nomes maiores da literatura (infantil) e o facto de vinte anos volvidos sobre o livro, Browne o ter revisitado e nos ter conduzido novamente ao Parque. Desta feita, através do genial Voices In The Park.


A mesma temática e as mesmas personagens,  já sob o primado da figura humanizada dos primatas (tão do seu agrado), ganham agora uma nova dimensão. A história chega-nos contada a quatro vozes! Cada uma das personagens relata-nos a sua versão dos momentos vividos no Parque.


Os pormenores de  que Browne se socorre para cada um dos relatos (tipo de letra, linguagem, jogo de cores e de sombras...) e a intensidade com que cada personagem assume agora o seu perfil psicológico fazem de Voices In The Park um livro obrigatório. A ele voltaremos um destes dias.


"Voices in the Park encourages children to see things from other people’s points of view. I want children to see the world through other people’s eyes — to imagine what it’s like to be somebody else", diz Anthony Browne.


Nós, Hipopómatos, não perdemos nunca a oportunidade de ver o mundo através dos seus olhos.