terça-feira, 26 de maio de 2015

As Aventuras de Pinóquio

"As mentiras, meu rapaz, reconhecem-se logo! Porque as há de duas espécies: as mentiras que têm as pernas curtas, e as mentiras que têm o nariz comprido; a tua é precisamente das que têm o nariz comprido."


Poucos serão os contos infantis que se podem comparar a Pinóquio, tanto na forma como se transformou em património colectivo como no legado em que se materializou. Com mais de 130 anos, centenas de versões e adaptações, o boneco de madeira continua a ser senhor do nariz mais conhecido e famoso de sempreAs crianças continuam a tocar no nariz, suspeitando que possa ter crescido como o dele. No mundo dos adultos, uma longa descendência pinoquiana há muito que o transformou em personagem de todos os dias.


Inicialmente escrita em capítulos (1881),  para o primeiro jornal infantil existente em Itália, o sucesso da história, que Carlo Collodi dirigiu aos pequenos leitores, levou  à publicação, dois anos mais tarde, do livro As Aventuras de Pinóquio, eternizando a figura que, tendo nascido marioneta, se transformou em menino de carne e osso. 


A história, que muitos rotulam de moralizante e poucos conhecerão sem ser na versão saída dos estúdios Walt Disney ou nas prolíferas adaptações light, reveste-se de uma complexidade bem maior do que o simples crescimento do nariz, sempre que a marioneta de madeira diz uma mentira. 


O bem e o mal, o certo e o errado, as traquinices de quem não pensa pela sua própria cabeça (ou não fosse uma marioneta) e se deixa influenciar por tudo o que é má companhia, o gosto pelo ócio em detrimento do trabalho são apenas algumas das associações mais frequentes, relegando para segundo plano a dureza e a crueldade das experiências vividas por Pinóquio.


Apesar dos seus destinatários directos serem os leitores mais pequenos, Collodi não se coibiu de enforcar o seu protagonista, de lhe queimar os pés, de o transformar em cão de guarda acorrentado ou em burro vítima de maus-tratos,  e ainda de o colocar, por um punhado de vezes, na eminência de ser barbaramente assassinado.


Com uma escrita escorreita e fluída, fábula e realidade coabitam em lugares tão imaginativos como o Campo dos Milagres, a Cidade dos Apanha-Tontos ou a Terra dos Brinquedos. Personagens inesquecíveis como o Grilo-Falante, a Fada de cabelo azul-turquesa ou o próprio Gepeto atravessam a história de mãos dadas com a fome, a miséria, ou o analfabetismo, espelhando a realidade italiana da segunda metade do séc.XIX.


À riqueza do texto de Collodi juntam-se agora a arte e a mestria das ilustrações de Roberto Innocenti, numa edição de luxo da Kalandraka. O trabalho do ilustrador italiano, de que conhecemos, entre outros, Uma Canção de Natal, A História de Erika ou A Menina de Vermelho, dispensa qualquer adjectivação. 


E não, não nos cresce o nariz se afirmarmos que o realismo de Innocenti nos faz reviver cada momento da história (com 192 páginas) como se a percorrêssemos pela primeira vez.



::: os Hipopómatos têm para oferecer :::
Com a amável colaboração da Kalandraka, um exemplar do livro As Aventuras de Pinóquio. O que precisam fazer?

- Gostar de livros
- Ser seguidor dos Hipopómatos,
- Deixar aqui, até à meia noite de domingo, um comentário sobre o livro ou a editora. 

O vencedor, escolhido aleatoriamente, por sorteio, será anunciado no dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Já estamos à vossa espera...

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O Mundo ao Contrário


Poucas coisas serão susceptíveis de fascinar tanto uma criança como um mundo repleto de regras invertidas, onde cada imagem se revela uma situação de non-sense, incentivando-a a participar num incrível  jogo de verdade/mentira.


Coelhos que apontam a arma aos caçadores,
cavalos que montam os jóqueis,
bebés que dão comida à boca das mães,  
ratos que caçam gatos, 
animais da selva que vivem nos pólos e vice-versa, 
bombeiros que apagam inundações com fogo, 
aviões que flutuam no mar, 
barcos que circulam nas estradas, 
carros e comboios que voam nos céus...

São apenas alguns exemplos da parafernália de situações bizarras que habitam O Mundo  ao Contrário, imaginado pelo alemão Atak, que o Planeta Tangerina acaba de editar.


Não se trata de uma história com princípio, meio e fim,  antes uma impressionante colecção de quadros surrealistas, passíveis de contar várias histórias, todas elas desconcertantes, que abarcam realidades tão díspares como o mundo natural ou o imaginário infantil dos contos de fadas.


Num mundo onde tudo está trocado, são os três porquinhos que se apresentam com um apetite voraz para devorar o pobre lobo que, na mesma página, parece condenado a trocar de papel com a Capuchinho Vermelho.

Uma dança de papéis a que não ficam imunes muitos outros heróis da criançada, como Bart Simpson, Sponge Bob, Darth Vader, Batman, Snoopy  ou Popeye. Um mundo pintado com uma estonteante paleta de cores, aparentemente vivido ou sonhado por um pequeno mickey mouse, que o atravessa ao longo de todas as páginas como um guia que conduz pequenos e grandes leitores. Sigam-no!


Num livro só de imagens ( a excepção é a inclusão de um Rap do Mundo ao Contrário no inicio), Atak oferece-nos um mundo desconstruído onde a hilaridade não impede a reflexão sobre a ordem natural das coisas.


Há dois anos,  desconhecíamos a existência de Atak, pseudónimo de Hans-Georg Baber. Foi-nos apresentado, de forma algo surreal,  por um livreiro americano, na Feira de Frankfurt. Depois de um frutuoso diálogo, o simpático homem não nos deixou sair, literalmente, sem trazer na bagagem Topsy Turvy World, a edição inglesa, ligeiramente diferente, publicada pela Flying Eye Books

Um livro onde as coisas se invertem logo na página do título. Experimentem!
Na companhia dos mais pequenos, revisitámos o livro vezes sem conta. As mesmas que agradecemos em pensamento ao livreiro que o catalogou de obrigatório. Até por se tratar de um daqueles livros que nunca temos certeza de alguma vez ver por cá... Pulámos de alegria e ficámos virados ao contrário quando soubemos da novidade do Planeta Tangerina!  Obrigatório? Nem que para isso tenham de fazer o pino!

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Aquele Abraço



Tudo o que Filipe quer é um abraço. Simples? Não no caso do Filipe, um pequeno cato, nascido no seio de uma antiga e ilustre família, pouco dada a manifestações de afecto.


Todos conhecemos uma ou outra família como a sua. Daquelas que gostam de parecer bem, que são sempre muito certinhas e nunca saem da linha. Onde não há lugar para abracinhos.


Filipe só quer um abraço! Mas, na sua família, os mais pequenos devem dar o exemplo, o que quer dizer ficar sossegado, e acreditar que um dia, vai subir na vida. Pelo menos, é o que dele espera a ilustre família


Filipe não podia achar tudo isto mais errado. Não queria ser exemplo para nada e mostrava-se pouco interessado em subir na vida. Tudo o que ele queria... era um abraço!


Acreditava que um dia seria possível. Quando, finalmente, encontrou um amigo,  um corajoso e confiante balão amarelo, o desejo de proximidade foi tal  que não mediu as consequências...


O escândalo rebentou. Público e espinhoso. A família de Filipe cobriu-se de vergonha e ele percebeu que aquele não era mais o seu lugar. 


Um livro com uma forte componente visual, onde as ilustrações contam uma parte significativa da história. Texto e imagens mantêm uma encantadora cumplicidade que se espelha nas subtilezas e no humor que os desenhos de Simona Ciraolo vão revelando. Exemplo disso é o facto do leitor cedo perceber que Filipe é um cato, sem que o texto alguma vez o mencione. 



Um inteligente jogo que começa na capa e se estende às geniais guardas, que dão guarida à árvore genealógica  da ilustre família e registam uma amizade, que parece perdurar bem para lá do final do livro. 


As expressões corporais e faciais ou o fabuloso  pormenor da flor cor de rosa que o pequeno Filipe tem na cabeça (sim, porque ele é um cato), e que desaparece nos momentos mais difíceis da vida, farão as delícias dos mais pequenos, que adoram partir à descoberta de cada detalhe.


Escusado será dizer que o nosso pequeno lutador continuou a ser objecto de rejeição até aprender a coabitar com a sua própria solidão. Mas continuava a querer o seu abraço! Um dia fez a descoberta que mudaria a sua vida e as flores na sua cabeça  multiplicaram-se.


Tal como o Filipe, os Hipopómatos adoram abraços. Por isso,  agradecem à Orfeu Negro este e outros  abraços que não esquecem.

Ilustração do Livro Burros, de Adelheid Dahimène & Heide Stollinger, editado em 2009.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Amores de Família

AVISO AO LEITOR: ESTE LIVRO CONTÉM UM ABC DOS DEUSES.



Há encontros felizes. Roubamos a frase a Carla Maia de Almeida para falar da sua parceria com Marta Monteiro, de que resultou Amores de Família, o livro recentemente editado pela Caminho


Um álbum de família(s), onde se retrata com arte e subtileza a diversidade que hoje caracteriza esta instituição. Recompostas, monoparentais, com pais do mesmo sexo, de substituição ou adoptivas, as famílias deste livro têm em comum os afectos e as vivências de todos os dias.


Depois do êxito de Irmão Lobo(atravessado pela história de uma família em desagregação), Carla Maia de Almeida volta à temática da família, com uma abordagem que surpreende pela originalidade. As famílias deste livro são  inspiradas nos principais deuses e deusas da mitologia greco-latina, que a autora considera muito parecidos, afinal, com os humanos (tirando os poderes sobrenaturais).


Texto e ilustração fundem-se numa sóbria harmonia, resultando num livro singular e de poética beleza. Os textos curtos e magníficos,  dispostos lateralmente a cada página, cedem a largueza da dupla página às ilustrações de Marta Monteiro, que nela se espraiam como retratos vivos do dia a dia de cada uma destas famílias.


Usufruindo do fundo branco, os tons quentes e apelativos, com predominância  do azul e do laranja, ilustram na perfeição os afectos de que as palavras dão conta e as múltiplas histórias do quotidiano destas famílias, que podem ser encontradas em qualquer parte do mundo.


É um livro para ler em família. Várias vezes! A cada leitura, deleita-nos ver a forma como os mais novos vão descobrindo as subtilezas e revelando sinais de identidade com esses pais, mães, tios e avós, que têm tudo menos nomes vulgares

Para adormecer, O Pai Neptuno conta cavalos-marinhos. Quando se zanga, levanta uma tempestade em casa que faz os barcos pequenos sentirem-se ainda mais pequenos. Assim que acalma, a maré baixa.


Energética e superorganizada (a Mãe Minerva), adora fazer listas de compras e planear as refeições da semana, seguindo os conselhos da roda dos alimentos. Com ela, as crianças sabem que nunca hão de encontrar comida de plástico na mochila.


O glossário existente no final do livro, certamente, tranquilizará os menos familiarizados com estas "coisas de deuses". Ao mesmo tempo que nos chama a todos para outra... e mais outra leitura! Procurando um lugar, escolhendo os nossos deuses...


E relembrando outros livros e outras famílias que ainda hoje fazem parte da nossa memória. Nos anos 80,  Jorge Listopad escreveu no seu Álbum de Família:

16 desenhos
7 homens e 7 mulheres
Mais um casal
Mais 1 anjo
Esta é a minha família.

sábado, 2 de maio de 2015

Feliz Dia da Mãe!

 Elena Odriozola

A Minha Mãe é... Super-Mãe



Quem o afirma é o pequeno rapaz que aqui vemos sentado no colo da mãe, depois de ter levado a cabo uma atribulada missão como detective, em busca dos seres que misteriosamente arrumavam e organizavam tudo lá por casa. Fantasmas ou mágicos?


O pequeno acaba por descobrir que o único ser com um super-poder  que ali existe é... a Mãe! O super-poder de ter todas as profissões do mundo! Chefe de cozinha, professora, enfermeira, motorista ou cabeleireira são apenas alguns exemplos.




E como se tudo isso não bastasse, ainda ficamos a saber que a sua mãe é a mais bonita de todas, cheira sempre bem e que quando põe baton fica mesmo uma princesa.



Da colecção O Que Fazem Os Pais, editada pela Máquina de Voar, é mais um livro com texto das jornalistas Carla Jorge e Irina Melo e  ilustrações de Catarina Correia Marques.



E porque são as mais bonitas de todas, vivam as MÃES!